quarta-feira, 17 de setembro de 2008

(08/05) Encontro VI: Língua e Diversidade

A partir da leitura da entrevista concedida por Marcos Bagno à revista "Caros Amigos", entraram em cena dois importantes conceitos: variação e mudança lingüística. Segundo BAGNO, o fato de a Gramática Tradicional ter se dedicado exclusivamente à língua escrita explica o seu caráter elitista. Em outras palavras, se as línguas sempre foram muito mais faladas do que escritas, se ainda hoje são várias as pessoas que morrem sem saber ler ou escrever( mas sabendo falar a sua língua materna) e se os primeiros filólogos basearam-se apenas nas regras gramaticais empregadas pelos autores clássicos para descreverem a língua de um povo, é natural que, desde os primeiros estudos lingüísticos, o uso oral das línguas (praticado pela maioria) tenha sido desprezado, sobretudo por estar associado à parte analfabeta da população. Conseqüentemente, passou a ser considerado "correto", mesmo em situações informais, o uso da língua que imitasse as regras utilizadas por esses autores.
Infelizmente, essa concepção ignorou a heterogeneidade inerente a toda língua, instaurou o preconceito lingüístico e perpetuou-se até as salas de aula do século XXI. A maioria dos alfabetizadores e dos professores de Língua Portuguesa ainda reproduzem o mito do "erro" em suas aulas. A diversidade lingüística ainda é, para grande parte dos educadores, sinônimo de violação à língua. Pensando assim, eles ocupam todo o seu tempo com o ensino de regras da gramática normativa para que o aluno "aprenda a falar o português correto", mesmo quando esse português esteja completamente distante da realidade sociocultural do brasileiro ou ainda nem seja mais usado na própria sociedade portuguesa.
Será que a desmotivação, a apatia e a dificuldade que o professor identifica nos alunos não representam reações a uma "língua estranha" de quem se sente ignorado em sala de aula como um sujeito conhecedor da sua língua materna? Os alunos devem mesmo abandonar o seu repertório lingüístico para aprenderem a norma padrão? Como o professor deve propor à turma o ensino da gramática normativa?

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