sexta-feira, 18 de julho de 2008

(17/04 e 24/04) Repensando os encontros IV e V

Rubem Alves, em seu belíssimo texto "Campos e Cerrado", faz uma analogia da depredação ambiental com o processo de ensino-aprendizagem: até que ponto a ação pedagógica destrói a natureza do indivíduo, sua referências, sua história, seus valores e, por que não, o seu repertório lingüístico? Depois da leitura desse texto, retomo aqui questões referentes ao ensino da língua materna e à variação lingüística. Trabalhar em sala de aula apenas a língua do ponto de vista lingüístico é perpetuar o discurso da Gramática Tradicional. As aulas transformam-se em enfandonhas análises das frases em si mesmas, algo distante e , às vezes, até mesmo, inacessível para a maioria dos alunos. Talvez isso explique os elevados índices de reprovação e as profundas dificuldades de leitura e produção de textos dos alunos que concluem o Ensino Médio. O ensino da norma padrão não pode ratificar o preconceito, a estigmatização e a exclusão social. Também não pode transformar-se no "samba do crioulo doido" permitindo tudo ( com o argumento de que comunicar-se é o que vale) e condenando a norma padrão. As variedades lingüísticas devem ser tratadas como legítimos e eficientes meios de comunicação em seus respectivos grupos e em determinadas situações e a norma padrão, uma convenção da cultura letrada, deve ser tratada na escola como um instrumento que permite ao aluno o acesso, de modo consciente e crítico, a outras esferas de interação. De acordo com o professor Sírio Possenti, “pode-se ensinar o padrão sem estigmatizar e humilhar o usuário de formas populares.” (POSSENTI, 2006:39). Portanto, entendendo que compreender uma língua implica não só ser capaz de expressar-se como emissor, mas também ser capaz de captar as distinções na fala de terceiros como ouvinte/leitor para compreender de forma segura as mensagens que lhe são transmitidas, o professor de Língua Portuguesa deve investir em estratégias pedagógicas que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem da língua materna numa perspectiva que contemple todas as possibilidades de variação como plenamente funcionais desde que adequadas a um contexto, ou seja, assim como o uso do "internetês" não seria adequado a uma situação formal, o uso da norma padrão não seria o mais adequado, por exemplo, a uma situação na qual um adulto conversa com uma criança de 2 anos.

Um comentário:

Josselita disse...

Olá Édson,
este texto do Rubens Alves realmente nos faz refletir sobre os resultados do nosso trabalho diário. Temos que plantar sementes neste campo árido. Parabéns!
Josselita.