quarta-feira, 24 de setembro de 2008

(26/06) Ensinar a língua materna ou a gramática normativa?/ Encontro XII

Após a leitura do divertido "O sotaque das mineiras" (autor desconhecido), mais uma vez, veio à tona uma discussão acerca de como a escola deve lidar com o repertório lingüístico que o aluno já traz de casa e das suas outras relações sociais. Creio que a questão central não seja ensinar ou não gramática, mas que gramática ensinar e como ensiná-la. O professor deve promover atividades de reflexão gramatical que se voltem para o desenvolvimento da competência interacional do aluno e, nessa perspectiva, conforme a professora Marcia Bortone, o ensino da norma padrão não pode estar desvinculado do aspecto sociopragmático da língua (BORTONE, 2008). As aulas de Língua Portuguesa devem estar, portanto, abertas para as mais diversas situações comunicativas, seja nas atividades de produção de textos orais e escritos, seja nas atividades de leitura. O grande desafio do professor é entender e, principalmente admitir, que ensinar a gramática normativa não significa ensinar alguém a falar uma língua. Muitos de nós conhecemos a gramática do inglês, entretanto não o falamos; alguns pessoas, ao contrário, falam fluentemente espanhol, mas nunca estudaram esse idioma nem passaram noites em claro fazendo a análise sintática de um texto em espanhol. Diante disso, em minhas aulas, tenho procurado compreender o quão desnecessário é insistir em esinar aquilo que meu aluno já domina. Por que, por exemplo, devo trabalhar todas as regras de concordância se ele já é capaz de usar várias delas no seu dia-a-dia? Ou seja: quando ele fala ou escreve "As pessoa falaram demais.", reconheço, em primeiro lugar, que essa construção é comum na fala de vários brasileiros, inclusive no universo daqueles com maior grau de escolaridade e, em segundo lugar, que a concordância não é um problema para ele (nem mesmo quando emprega "pessoa"). Em seguida, tento fazê-lo compreender que, em situações formais, ele deverá empregar "pessoas" para atender a uma convenção e não se expor ao preconceito lingüístico.

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