"Desmundo", filme de Alain Fresnot, adaptado do romance homônimo de Ana Miranda, é um excelente material para quem se interessa pelo processo de formação da língua brasileira. O filme é ambientado em 1570, época em que os portugueses enviavam órfãs ao Brasil para que casassem com os colonizadores. A tentativa era minimizar o nascimento dos filhos com as índias e que os portugueses tivessem casamentos cristãos. Essas órfãs viviam em conventos e muitas delas desejavam ser religiosas. Oribela, uma dessas jovens, acaba casando obrigada com Francisco de Albuquerque. Elas não são convidadas a viajar, nem questionadas, são obrigadas a ir, sem o direito de escolha. Nesse contexto, marcado por toda sorte de etnias e tipos humanos, a divesidade cultural e lingüística é um traço marcante. A sensação é de que as línguas (português, francês, espanhol, dialetos indígenas), ao se encontrarem, passam por um processo de desconstrução e depois transformam-se em outras variedades que transitam entre o idioma de origem e as novas construções resultantes das novas relações dos personagens. Aos professores de Língua Portuguesa e alfabetizadores, a obra serve como fonte de pesquisa, uma vez que sinaliza para o movimento natural e ininterrupto de variação e mudança pelo qual passa toda língua. Eis aí um bom argumento contra aqueles que ainda insistem em pregar o culto do "erro".
PRUDÊNCIA
Há 5 anos
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